*Por Kaio Cézar de Melo
O mundo vive uma era de crescente instabilidade geopolítica motivada por uma percepção, de parte da sociedade, que deu voz a movimentos extremistas, nacionalistas e fundamentalistas. Nessa esfera, houve a ascensão da extrema direita em vários países e de grupos radicais, a eles ideologicamente ligados, que estimulam comportamentos que empobrecem o debate sobre os grandes temas e, mais do que isso, os reduz às suas capacidades cognitivas.
Todo esse movimento involutivo, do ponto de vista humano, fortaleceu regimes autoritários estabelecidos e figuras políticas com tendências autocráticas, abrindo espaço para uma era de instabilidades com características diversas, mas que passam, todas elas, pela indisposição, de alguns líderes, de compreenderem o planeta e prepararem suas populações para um tempo de desafios climáticos, humanitários e tecnológicos.
Nesse momento, a crescente instabilidade geopolítica na Ásia, na África, no Oriente Médio e na Europa, sugere aumento do protecionismo e das barreiras ao comércio internacional, da inflação, dos juros e de alguma desordem na cadeia global de suprimentos, que já vinha enfrentando dificuldades em razão da pandemia.
Adiciona-se a isso, as constantes tensões geradas pelas mudanças do clima que pressionam autoridades, em todo o mundo, a desenvolverem regulações e políticas públicas capazes de contribuírem, de fato, com a redução da emissão dos gases de efeito estufa, responsáveis, em grande parte, pelo aquecimento global. Sendo, também, um dos causadores do aumento do número de refugiados que, muitas vezes, deixam seus países após um evento traumático de ordem climática.
A tecnologia, no contexto da relação entre empregado e empregador e das perspectivas futuras para o trabalho, também é uma variável de instabilidade. O desafio dos organismos internacionais está na harmonização destas relações, criando um determinado nível de padronização entre os países, o que, certamente, melhorará a qualidade da competição, em âmbito privado, entre as nações, e, em última análise, favorecerá os consumidores. Por outro lado, a padronização das relações de trabalho não pode se tornar uma barreira para os países menos desenvolvidos.
O enfraquecimento das instituições multilaterais é, também, um fator relevante, porque cria condições para que, alguns países, imponham seus interesses de forma unilateral, por vezes, com impacto humanitário potencialmente catastrófico. Ao mesmo tempo, coloca em perspectiva a necessidade de reforma desses organismos, em busca de uma governança global mais alinhada com o atual momento histórico.
Essa conjuntura impacta de muitas maneiras a administração das empresas, principalmente aquelas com algum grau de internacionalização, que navegaram por muitos anos em um ambiente de crescimento, em função do pós-guerra, onde havia um risco consideravelmente baixo de novos conflitos bélicos, marcados por acordos de paz e um sentimento generalizado de reconstrução das economias. As instabilidades geopolíticas tornam ainda mais complexo o comércio internacional e exigem, por parte de seus operadores, a ponderação desses elementos, seja por organizações multinacionais em suas definições de estratégia, dado o impacto social, financeiro, operacional e reputacional implícitos, ou por empresas de pequeno/médio porte, já que todos nós estamos envolvidos, em algum grau, na globalização e, esta, por sua vez, parece irreversível.
*Kaio Cézar de Melo é um profissional de destaque na área de Administração de Negócios Internacionais, com uma sólida trajetória acadêmica aliada à experiências profissionais relevantes. É mestrando stricto sensu em Administração no Insper, além de ocupar a posição de diretor executivo da Braver, empresa especializada em Comércio Exterior e Relações Internacionais.
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