*Por: Marcus Nakagawa
A discussão de que os termos ESG e sustentabilidade são diferentes está bem colocada nas várias redes sociais, artigos, aulas e palestras. Para quem ainda não entendeu que a sustentabilidade tem a ver com a perenidade, a continuidade e o olhar de futuro para as organizações. Este termo está atrelado à agenda 2030 da ONU e aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que buscam uma melhoria planetária para as pessoas que aqui vivem. Um sonho comum para as nações, estados, empresas, ONGs, movimentos e cada um de nós cidadãos deste planeta azul.
O ESG fica como uma forma de gestão das empresas para que no seu “checklist” de atividades entre as questões de ambientais, sociais e de governança. E que não sejam somente atividades ou indicadores a serem executados, implementados, medidos e auditados, mas que sim façam parte do cerne dos processos produtivos, do produto ou do serviço e da estratégia do negócio.
As empresas têm buscado profissionais da área, elaborado e participado de palestras e treinamentos, curso profissionalizantes, consultores e mentores, enfim investido muito para que os seus colaboradores possam entender cada dia mais as temáticas tão importantes para os seus vários públicos de relacionamento (stakeholders).
Tem até a matriz de materialidade que vai e questiona para estes públicos o que é importante ou não para eles. Principalmente quando a empresa acaba fazendo impactos negativos por exemplo na comunidade local ou ainda no meio ambiente da cidade. E os colaboradores também são questionados e pesquisados para saber os seus interesses e os impactos que a empresa causam neles.
A questão da saudabilidade dos funcionários sempre foi e sempre será um destes tópicos. Faz parte do S, do social, cuidar bem dos funcionários para que eles possam ter saúde para trabalhar, ser mais felizes e produtivos. Para que os propósitos pessoais e da empresa dê um “match” e tenha sinergia. E, também, para dar menos despesas no uso do plano de saúde, faltarem menos ou terem sinistros durante o trabalho.
A conversa de buscar uma vida saudável e mais sustentável pode ser ampliada e colocada diretamente com os times de colaboradores. E a empresa pode ser uma catalisadora deste estilo de vida que muitos brasileiros desejam.
Segundo a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável de 2023, a quinta desenvolvida pelo Instituto Akatu e a GlobeScan, e nesta versão com o patrocínio da Ambev, Asics, Assaí Atacadista, Mercado Livre, PepsiCo, RaiaDrogasil e Unilever e apoio institucional de PwC e WWF-Brasil, mostram que cerca de 7 em cada 10 brasileiros gostariam de ser mais saudável. E que 6 em cada 10 gostaria de ser mais sustentáveis. O problema é a dificuldade de sair da intenção para ação, pois somente 3 em cada 10 fizeram efetivamente mudanças nos últimos meses para as questões de saúde e de sustentabilidade.
Na questão ambiental, 82% dos brasileiros querem reduzir o seu impacto sobre o meio ambiente, que são 10 pontos a mais do que em outros países. Mostrando aí uma super oportunidade para os gestores de ESG das organizações, para os políticos que querem uma real transformação e para as ONGs poderem captar recursos e desenvolver os seus projetos. Ainda falta muita informação de como fazer esta mudança, pois 28% dos brasileiros afirmam não saber como viver de uma maneira que seja boa para si, para outras pessoas e para o meio ambiente. Mostrando a necessidade de educação sempre.
A grande maioria dos pesquisados (85%) no nosso país fazem a ligação entre viver uma vida ecologicamente correta como benesse para a sua saúde mental e bem-estar emocional, além de se sentirem mais saudáveis (85%) quando passam tempo em contato com a natureza. Talvez por isso o movimento do “banho de natureza” esteja crescendo tanto no Brasil como no mundo. Mas para isso precisamos conservar e preservar as florestas, para não termos banhos de cinzas, fumaças e outros poluentes que têm vindo das queimadas. Atitudes mais sustentáveis e saudáveis no dia a dia também aparecem na pesquisa, mostrando que 42% usam transporte público para se locomover, 30% reservam resto de comida para compostagem, 63% comem comida saudável e 52% se exercitam para manter-se saudável. Quando estas atividades se tornarem hábitos e forem ensinados pelas famílias e pelas escolas, teremos efetivamente estilos de vidas mais saudáveis e sustentáveis.
Podemos perceber que transformar planejamento e intenções em realidade não é só a dificuldade das empresas, mas também das pessoas. E estas pessoas sejam os seus funcionários ou seus consumidores estão precisando de apoio, informação, comunicação, engajamento, estímulo e educação para terem vidas mais sustentáveis e saudáveis. Você já colocou no seu planejamento de ESG estes tópicos para o ano que vem?
*Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e presidente da Abraps