*Entrevista com Carlos Alberto Rodrigues
1. Quais foram os principais fatores que influenciaram a taxa de câmbio no mês de novembro?
Como principais fatores podemos citar, no campo externo, a expectativa da taxa de juros nos EUA para conter a inflação, se irá se manter mais alta ou entrará em um ciclo de queda, influenciando assim no direcionamento dos investimentos e, no Brasil, a questão do risco fiscal e o cumprimento meta de déficit zero por parte do governo.
2. Como a taxa de câmbio do Brasil em relação a outras moedas se comportou em novembro?
O mês de novembro começou com uma forte desvalorização do dólar frente ao Real e outras moedas emergentes, principalmente com a divulgação dos dados da inflação ao consumidor nos EUA que veio abaixo do esperado, trazendo maior expectativa para uma queda nos juros por lá. O aumento no preço de algumas commodities também ajudou a valorizar ainda mais o Real frente a outras moedas, desta forma o Real segue abaixo dos R$ 5,00 em relação ao Dólar (taxa essa que chegou nos R$ 5,16 em Outubro)
3. Houve volatilidade significativa nas taxas de câmbio durante o mês de novembro?
Tivemos muita volatilidade nestas últimas semanas, mesmo com a sequência de feriados locais e internacionais, que geralmente reduzem a liquidez, ainda sim o mercado de câmbio oscilou bastante. Até o momento, o Real teve uma variação em torno de 3,5% em relação ao Dólar e de 2,5% ao Euro dentro do mês.
4. Qual foi a tendência geral das taxas de câmbio no mês de novembro: valorização ou desvalorização da moeda local?
O Real está com uma valorização frente outras moedas, como Dólar e Euro, em comparação com o mês anterior. Muito em função da expectativa de fim do aumento dos juros nos EUA com uma atividade econômica “controlada” e, mesmo tendo queda nos juros por aqui, o que diminui o retorno para os investidores que aqui investem, ainda conseguimos nos manter atrativos frente outros países emergentes.
5. Como a ata da última reunião do Federal Reserve está influenciando a estabilidade do dólar em relação ao real e quais são as principais considerações dos investidores nesse contexto?
A última ata divulgada pelo Fed, apesar de trazer um tom cauteloso, não gerou grande impacto nas expectativas do mercado sobre os juros. Os membros do Fed sinalizaram que só subirão novamente os juros, caso os dados de inflação e atividade econômica venham fora do esperado.
Dessa forma, com um cenário mais possível de queda de juros nos EUA, os investidores abrem espaço para investir em outros países que possam trazer um retorno maior apesar de serem considerados de maior risco.
6. Diante da breve pausa nos combates entre Israel e Hamas, como essa situação geopolítica está impactando a trajetória do dólar em relação ao real, e quais são as expectativas dos investidores diante desse cenário até janeiro de 2024?
O início da guerra entre Israel e Hamas, que começou no dia 7 de outubro, trouxe grande preocupação e incertezas em todo o mundo, principalmente pelo potencial de causar efeitos negativos nas cotações de petróleo, uma commodity que impacta fortemente o Brasil pela grande influência nos preços dos combustíveis e de fertilizantes. Hoje, com quase 2 meses desse conflito, notamos que essa preocupação diminuiu, o mercado acompanha atentamente os desdobramentos mas segue sem maiores impactos causados pela guerra.
7. Quais são as expectativas para o câmbio em dezembro e no primeiro mês de 2024?
O último Boletim Focus divulgado na última quarta-feira pelo Banco Central, trouxe uma projeção de manutenção do dólar na faixa dos 5,00. Analisando os últimos meses, e tirando o pico de alta do Dólar que tivemos em outubro (dólar atingindo acima dos R$ 5,15) o mercado vem, desde agosto, se mantendo em uma faixa de R$ 4,80 a R$ 5,00.
Levando em consideração os principais fatores que vêm influenciando o mercado de câmbio, como os juros nos EUA, inflação, risco fiscal no Brasil, se não tivermos nenhuma surpresa muito fora da curva, apesar das oscilações e volatilidade do mercado, a expectativa é de se manter nesse patamar entre R$ 4,90 e R$ 5,00.
*Carlos Alberto Rodrigues é Gerente de câmbio e líder mesa de operações na WIT Exchange