TAXA DE JUROS A 2,75% SURPREENDE O MERCADO
O Bacen (Banco Central) surpreendeu boa parte do mercado em especial os economistas ao elevar a Selic, que é nossa taxa básica de juros da economia em 0,75 ponto percentual.
Movendo os juros básicos de 2% a.a para 2,75% a.a. Apesar dar surpresa o mercado já estava meio que dividido entre uma eventual elevação de 0,50 ponto percentual ou uma elevação mais agressiva de 0,75 ponto percentual.
Parabéns para os traders que acertaram.
Ao contrário dos economistas que estavam olhando mais para a questão da atividade econômica, crendo que o Bacen agiria de forma mais branda nessa elevação.
Até porque, a elevação já era prevista, pois ele (Bacen), indicou antes que elevaria e iniciaria um processo de aperto monetário, mas os economistas acharam que seria ele seria mais gradual nessa elevação.
Mas, na taxa futura de juros, onde os traders estão, já era possível vê-los precificando um aumento de 0,75 ponto percentual.
Não há dúvida que o Bacen foi duro nessa decisão, foi favorável a uma elevação mais agressiva dos juros nesse começo de ciclo de alta.
A decisão foi unânime, ou seja, todos os membros do colegiado integrantes do COPOM (Comitê de Política Monetária) decidiram por essa elevação.
Vale lembrar que já fazem praticamente seis anos que o COPOM não estabelece um aumento da Selic.
No entanto, mais surpreendente ainda que a elevação de 0,75 ponto percentual é o comunicado que foi divulgado acompanhando sua decisão de juros.
Pelo comunicado o Bacen fez uma espécie de “contrato” de elevação de 0,75 ponto percentual, ou seja, da mesma magnitude para a próxima reunião (dia 04 e 05 de maio).
Aumento da taxa de juros: como entender esse comunicado
1º PONTO
O COPOM explicou a razão dessa elevação na taxa de juros esta relacionada a preocupação com a inflação.
Segundo palavras do comunicado:
“O ajuste deve reduzir a probabilidade de um não cumprimento da meta de inflação desse ano, assim como manter a ancoragem das expectativas para horizontes mais longos.”
Portanto essa decisão mais dura do COPOM está relacionada a uma questão de reconduzir as expectativas em relação a inflação.
2º PONTO
Além desse fator há a questão da condução das expectativas no mercado financeiro.
Alguns gestores de Fundos de Investimento no Brasil, já vinham criticando o Bacen por sua lentidão nessa elevação para iniciar o aperto monetário, justamente, por conta do cenário econômico.
Pronto o Bacen resolveu agir e deu o seguinte recado:
“[…] essa estratégia é compatível com o cumprimento da meta de inflação em 2022 mesmo em um cenário de aumento temporário do isolamento social […]”.
Ou seja, o Bacen coloca em seu comunicado sua ciência de que estamos em um momento complicado para recuperação da atividade econômica, mas, colocou a inflação no centro de sua decisão.
Ao analisar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de fevereiro constata-se que o Bacen tem razão.
O IPCA em doze meses está muito próximo da banda superior da meta.
A meta atual estabelecida para inflação oficial para 2021 está entre 3,75% e 5,25% como teto. E pelo último dado do IPCA estamos perto do teto.
O acumulado em 12 meses está em 5,20%, ou seja, isso acendeu o sinal vermelho para o Bacen.
3º PONTO
Ao falar de inflação o Bacen cita especificamente a questão do petróleo e combustíveis.
Pois, dentro desse cenário de inflação, ainda temos a elevação da demanda por commodities internacionais em especial por petróleo.
Que claramente tem elevado os preços e as expectativas de preços para petróleo e isso afeta muito o preço dos combustíveis no país .
Nesse ponto o Bacen falou:
“[…] apesar da pressão inflacionária de curto prazo se revelar mais forte e persistente do que o esperado, o comitê mantém o diagnóstico de que choques atuais são temporários, mas segue atento a sua evolução.”
Isso demonstra que quando a questão da inflação entrou em foco, o que vêm acontecendo desde o ano passado, o Bacem já estava atento. Ao que tudo indica os choques atuais são temporários.
Aumento da taxa de juros: Qual o recado para o mês de maio?
Agora o mercado vai reagir, os papéis de bancos provavelmente vão subir.
Mas, o mercado já olha muito mais a frente. Ele está olhando para a continuidade desse ciclo e esse foi somente o primeiro aumento da taxa de juros.
Para reunião do mês de maio o Bacen já deixou claro que haverá (ou poderá haver) uma elevação na mesma magnitude, ou seja, uma elevação de 0,75 ponto percentual, como pode-se constatar no comunicado que acompanhou a decisão de elevação da taxa de juros.
“[…] a depender da evolução da atividade econômica do balanço de risco e das projeções de expectativas da inflação […]”.
A afirmação “depender da atividade econômica” coloca essa variável como determinante para uma manutenção dessa tendência de alta das taxas de juros.
Levando-se em consideração que várias cidades brasileiras estão em lockdown e que o processo de vacinação é muito moroso no país, fica a dúvida: será que a atividade econômica, não vai demorar mais do que as expectativas para se recuperar? Tornando o cenário ainda pior?
Segundo o próprio Bacen, em relação a essa questão da atividade econômica temos:
“[…] há uma recuperação consistente na economia levando em conta o PIB do quarto trimestre[…]”.
Mas, lembrou também que: “[…] não estão claros os efeitos da piora da pandemia do país esse ano […]” usando exatamente essas palavras:
“o agravamento da doença pode atrasar o processo de recuperação econômica produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado, por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta a pandemia que piore a trajetória fiscal do país ou frustações em relação a continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco.”
Portanto, quando ele fala do cenário de riscos, ele cita a questão do risco fiscal, algo que o mercado tem colocado muito no preço, principalmente nos juros futuros.
Isso tudo, será o pano de fundo para a próxima reunião de maio do COPOM.
Indicação de leitura: PLANO DE GASTOS CONSCIENTE: UMA NOVA PERSPECTIVA PARA ORÇAMENTOS.