Entrevista com Daniel Mariga, especialista em investimentos sênior na WIT Invest
- Quais são as expectativas para a próxima reunião do Copom? O que se espera em relação à decisão de política monetária?
As expectativas são de que se mantenha o ritmo de corte de juros atual de 0,5%. Porém, o ponto principal será qual o tom da ata para os próximos anos. Se continuarmos com as falas de continuidade no corte de juros, devemos ter uma melhora na performance tanto da bolsa quanto para ativos de renda fixa atrelados ao IPCA e prefixados. Caso vier com um tom mais duro, teremos um final de ano conturbado.
- Em dia de Super-Quarta, quais são as expectativas para a reunião do Fed no dia 13/12?
A expectativa é de manutenção da taxa de juros. Seria muito bom termos cortes nos EUA, assim como temos no Brasil, mas dificilmente isso ocorrerá no curto prazo. A economia norte-americana ainda está aquecida, com um alto número de empregos, não indicando que teremos uma desaceleração econômica. Porém, se a inflação continuar arrefecendo, podemos ser surpreendidos com quedas na taxa de juros.
- Quais são as expectativas em relação à taxa básica de juros (Selic) no Brasil nesta Super Quarta? E nos EUA? E a expectativa de taxa inicial após dezembro, última reunião do Copom em 2023, para 2024?
No Brasil, esperamos um corte de 0,5%, levando a Selic para 11,75%. Nos EUA, esperamos a manutenção da taxa entre 5,25% e 5,50%. Hoje, a expectativa para 2024 é que o Copom mantenha os cortes na Selic, terminando o ano com 9%, conforme previsto no Boletim Focus. Nos EUA, vemos uma manutenção da taxa até os dados corroborarem. Qualquer melhora além disso trará grandes expectativas para o mercado de renda fixa e bolsa de valores.
- Como a revisão para cima na projeção de inflação para 2024, agora em 3,91%, em comparação com o boletim anterior, está influenciando as estratégias de investimento no mercado financeiro para o próximo ano?
Os investidores buscam sempre um ganho real acima da inflação em seus investimentos. Portanto, isso define se devemos proteger mais as carteiras com ativos IPCA+ ou se podemos alocar mais em prefixados, por exemplo. Inflação em demasia corrói os investimentos, então sempre devemos manter a parte de proteção a eles bem equilibrada.
- Dado o cenário de queda na taxa Selic, que deve atingir 9,5% ao ano em 2024, como os investidores conservadores estão respondendo a esse ambiente, e quais são as perspectivas para produtos de renda fixa, como o Tesouro Direto?
O “adeus” ao rendimento de 1% ao mês impactou muito os investidores conservadores, porém ainda é possível termos boas rentabilidades se alocarmos de forma diversificada e abrirmos um pouco mão da liquidez. Hoje, as taxas do Tesouro Direto já estão precificadas com rentabilidades abaixo de 12% ao ano, portanto deve-se sempre ficar atento para produtos que mantenham o rendimento para os clientes. O mercado bancário e de crédito privado possui muito a contribuir com os investimentos brasileiros.
- Quais são as principais razões por trás da manutenção da expectativa de inflação em 4,63% neste ano, de acordo com o Boletim Focus, e como isso impacta as decisões econômicas e financeiras para 2024?
O descontrole dos gastos públicos auxilia para que cada vez mais a inflação fique acima de 4%. Além disso, o aumento de preços da gasolina pressiona o resultado da inflação neste ano. A inflação para 2024 promete dar uma trégua, porém as incertezas fiscais ainda podem ser um impasse para o ano.
- O aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve nos Estados Unidos, mantido em níveis elevados, pode continuar até pelo menos o início de 2024? Como isso afeta as estratégias de investimento no mercado brasileiro e as decisões do Copom?
Provavelmente, a taxa de juros deve permanecer nos níveis elevados por um tempo. O Brasil acaba perdendo um pouco da atratividade internacional, o que faz com que os grandes fundos de pensão destinem menos recursos ao Brasil. Porém, ainda temos uma das maiores taxas de juros reais do mundo, mostrando espaço para cortes na Selic atual.
- Qual seria o principal conselho para o investidor brasileiro neste final de ano e em janeiro?
Diversifique sempre e mantenha uma carteira equilibrada. Aproveite janeiro para rebalancear carteiras e verificar se a sua exposição a ativos como bolsa de valores e fundos imobiliários não ficaram deslocadas devido à bolsa em 2023.
- Considerando o atual cenário de juros no Brasil e nos Estados Unidos, é apropriado reconsiderar a permanência em investimentos de renda fixa? Quais alternativas de investimento são atrativas neste momento dadas as condições econômicas nos dois países?
O investidor deve ficar atento às oscilações das taxas em sua carteira. Se o cenário de queda na taxa de juros se concretizar, o investidor deve avaliar os ágios em sua carteira para ter ganhos expressivos em papéis de renda fixa. Porém, é necessário cuidado com títulos muito longos que possuem muita volatilidade.
O ramo de produtos como private equity, distressed credits e fundos cotizados são interessantes hoje. Os dois primeiros estão em ótimos pontos de aporte e os fundos cotizados retiram a volatilidade da carteira de investimentos, mantendo retornos próximos a 1% ao mês.
- Qual seria o principal conselho para o investidor brasileiro neste final de ano e em janeiro?
Mantenha proximidade de seu assessor de investimentos. O mercado está em constante mudança e tomar decisões sozinho ou seguir carteiras de terceiros pode não ser a melhor opção. O desconhecimento de alguns investidores em relação a alguns produtos pode fazer com que o investimento seja feito de forma errada para o seu perfil.